Admirável Cérebro Novo
Flavia Penedo*
É comum nos referirmos ao “cérebro de grávida” de forma pejorativa, as próprias gestantes falam, muitas vezes rindo – provavelmente para não chorar – sobre o quanto estão com a memória péssima, raciocínio lento e dificuldades de se concentrar. Também não é incomum ouvirem comentários como “ih, se prepara, porque só piora”.
Num mundo em que se hipervaloriza a eficiência e onde as profissionais gestantes são cobradas ao limite, muitas vezes sendo sobrecarregadas de tarefas em nome de “deixar tudo pronto antes de sair de licença”, sentir-se assim pode de fato ser angustiante. Sem contar as que acumulam tarefas de casa e cuidados com outros filhos, gerando uma enorme carga mental. Some-se a isso o fato de vivermos numa sociedade e numa cultura que tendem a olhar apenas para o que é negativo, a patologizar a gestação e desacreditar sistematicamente do maravilhoso projeto fisiológico que possuímos nas nossas “configurações de fábrica”.
Porém, o que acontece na verdade, ao contrário do que se acreditava no passado – que o nosso cérebro, uma vez formado, era estático – é que a neurociência vem demonstrando que esse incrível órgão é plástico, dinâmico e está em constante transformação, através das experiências que vivemos e de outros estímulos, inclusive hormonais. E essa neuroplasticidade se intensifica ainda mais ao longo da gestação, trazendo ao cérebro maciças modificações, que se estendem também ao período do pós-parto imediato.
Isso significa que novas construções neurais estão acontecendo. É como se o cérebro fizesse um “upgrade” e instalasse novas atualizações ao longo da gestação. Estudos recentes indicam que parte do córtex cerebral diminui de tamanho nessa fase, perdendo massa cinzenta – o que explica aqueles prejuízos cognitivos citados lá em cima. Mas, uma das hipóteses é que isso aconteça justamente para permitir que novas conexões neurais se formem, com uma finalidade muito nobre: potencializar determinadas funções, especialmente as relacionadas ao comportamento materno e ao vínculo, preparando a futura mãe para ser mais sensível e receptiva ao recém-nascido e mais capaz de cuidar dele, garantindo assim sua segurança e bem-estar e, a longo prazo, a sobrevivência da espécie!
E o melhor de tudo é que temos disponíveis diversas ferramentas de treinamento mental capazes de otimizar ainda mais essa plasticidade extra que a gestação proporciona ao cérebro, podendo, não só compreender o que se passa – o que já é um alento – mas também usar esse conhecimento a nosso favor, aproveitando ao máximo essa remodelagem e reorganização como uma chance de promover intencionalmente uma série de mudanças, como aquisição de novos hábitos, comportamentos, crenças etc, capazes de trazer mais saúde emocional, satisfação e bem estar.
É aqui que entra a filosofia e o programa GentleBirth, que oferece uma abordagem eficaz, simples e prazerosa, com inúmeras práticas, dos workshops ao uso diário de todas as ferramentas disponíveis no aplicativo, para que a gestação, o parto e a parentalidade possam ser vivenciados com mais leveza, mais consciência e bem menos estresse.
Vamos honrar nossos cérebros e aproveitar as oportunidades de crescimento e aprendizado que todas essas transformações nos trazem! Tem alguns “efeitos colaterais”? Sim, mas poder encarar tudo isso de maneira construtiva e positiva é como virar uma chave poderosa que nos permite viver nosso melhor potencial!