Oscilações de humor e transformações cerebrais: o problema e a solução
Mayana Silva Vinti*
As oscilações de humor durante a gravidez são uma questão para muitas famílias, assim como a dificuldade da parceria, da rede de apoio (quando ela existe!) e da própria pessoa gestante em lidar com as novas e inconstantes emoções que podem ganhar tanto espaço quanto aquele que o bebê vai aos poucos ocupando no corpo de quem o gesta.
E se eu disser que na mesma medida em que o corpo oferece as condições básicas para que uma nova vida seja gerada em seu interior, também oferece condições propícias para que os medos e ansiedades, normalmente associados à gestação, não sejam nutridos?
Se você está gestando, após ler esse texto você provavelmente vai se sentir mais confiante com relação às suas capacidades mentais durante a gestação e seu poder de lidar com a montanha-russa emocional.
Todos nós sabemos que não é necessário que um bebê esteja a caminho para que nos sintamos ansiosas, inseguras e estressadas. Entretanto, podemos concordar que as transformações e sensações corporais associadas à gestação, assim como as mudanças, exigências e incertezas associadas à chegada de um novo ser, costumam trazer elementos a mais com o que se ocupar.
Com a chegada do bebê, as novas demandas não são apenas financeiras, mas também emocionais e sociais. A percepção dos riscos associados a estas mudanças está intimamente relacionada às experiências de vida dos envolvidos. Estas experiências dão forma às percepções dos mesmos sobre parto, família, relacionamento, saúde, cuidados médicos e tantas outras, intimamente ligadas à gestação, parto e pós-parto.
A forma de encarar cada uma destas questões pode interferir diretamente no aumento da ansiedade e do estresse.
Enquanto precisa lidar emocionalmente com todos esses estressores, o cérebro da pessoa que gesta passa por mudanças importantes desencadeadas por hormônios como a ocitocina e a prolactina.
A prolactina atua facilitando a neurogênese, surgimento de novas células que, neste momento, ocorre principalmente no sistema olfativo. O sistema olfativo, por sua vez, está diretamente ligado à parte límbica do cérebro, associado às emoções. A mudança no olfato durante a gravidez tem papel importante para que a pessoa que gestou, mãe ou pai, identifique seu bebê, além de contribuir para a força da reação materna.
Estudos indicam que parte do córtex cerebral materno reduz de tamanho durante a gravidez. A hipótese é de que isso ocorra para que novas conexões neuronais, associadas ao comportamento materno, sejam formadas.
A pessoa que gesta também tem mais aguçada a sua capacidade de captar as microexpressões faciais das pessoas ao seu redor. As microexpressões são manifestações sutis da expressão não verbal emitidas involuntariamente a partir de emoções suprimidas. Elas aparecem brevemente quando a intenção ou sentimento são contrários ao que é dito ou manifesto voluntariamente pela face. A captação das microexpressões pelo cérebro límbico da pessoa que gesta ocorre de modo inconsciente e desencadeia o sistema de defesa do corpo, ancorado na adrenalina e no cortisol.
Com todas essas transformações durante a gestação, o cérebro se prepara com o objetivo de garantir a segurança e bem-estar do bebê, a sobrevivência da espécie!
A pessoa que gesta está mais sensível ao seu entorno desenvolvendo habilidades de vínculo e proteção ao bebê. Esta abertura sensível ocorre num momento de muitas demandas relacionadas à preparação do ambiente material, emocional e social para a chegada do bebê. Eis o quadro!
Os mecanismos para lidar com esta situação estão disponíveis no cérebro e na vontade.
Fato é que qualquer uma de nós pode exercer uma ação voluntária sobre a formação de novas conexões cerebrais ao direcionarmos o foco de atenção, as escolhas e as ações, mas isso é mais fácil para as pessoas que estão gestando!
Na neuroplasticidade autodirigida, a ação intencional é utilizada para desafiar padrões cerebrais, por herança e por sobrevivência, conectados mais ativamente à experiências negativas, segundo Rick Hansen. Ainda segundo o pesquisador, as grandes experiências positivas não são muito eficazes para transformar os padrões negativos de pensamento. Para isso, são necessárias pequenas experiências positivas recorrentes.
Comece observando onde está o seu foco. Você imagina o melhor cenário ou dedica sua atenção ao pior cenário possível? Os pensamentos sustentados estimulam áreas diferentes do cérebro, associadas ao bem-estar ou ao estresse. Seu corpo também responde ao estímulo dessas áreas.
Se você é parceiro/a de uma gestante, pode apoiá-la acolhendo suas emoções e incentivando-a direcionar o foco aos desfechos positivos. Visualizem juntes soluções positivas para os desafios encontrados!
O aplicativo GentleBirth é uma ótima ferramenta de suporte cotidiano para que você exercite positivamente o seu cérebro. Nele você vai encontrar áudios que facilitarão a prática familiar de mindfulness e hypnobirthing específicas para cada fase do trabalho de parto, puerpério e exercício da parentalidade. Experimente!