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Tudo e um pouco mais sobre preparação mental para o parto, gestação, puerpério e parentalidade.

De pé e avante!

De pé e avante!

Luciana Garutti Pereira*

O processo de medicalização e hospitalização do parto se iniciou no século XVII sob a influência da escola obstétrica francesa, liderada pelo médico François Maurice. Esse obstetra foi responsável por introduzir o parto horizontal, isto é, aquele em que no momento de dar à luz, a parturiente é deitada de barriga para cima numa cama... E isto tudo para que o Rei Luís XIV matasse a sua curiosidade e pudesse acompanhar o parto de uma visão, digamos, privilegiada! Assim, começou a cultura da litotomia, uma posição de parto excelente para quem assiste ao parto!

Mas, por mais surpreendente que pareça, acreditem: antes desses experts colocarem essa mulher deitada para parir, muitos bebês já haviam nascido! Muitos, no mundo inteiro, em todas as civilizações! Os primeiros relatos de partos humanos feitos em pinturas rupestres, hieróglifos egípcios e esculturas indígenas mostram que as mulheres sempre seguiram seus instintos e adotaram posturas quase verticais na hora de conceber. E como andavam! De um lado para o outro, mudando de posição, ora de cócoras, ora de quatro, conforme o saber intrínseco do corpo pedia... O que aconteceu? Como perdemos a conexão com o corpo a tal ponto que delegamos o protagonismo durante esse momento tão sublime e íntimo a terceiros que, por mais bem intencionados, deveriam estar ao lado, como se remonta à etimologia da palavra obstetra, do latim obstare?

A esse ponto, você pode estar pensando "Essa doida realmente está sugerindo que eu, podendo estar confortavelmente deitadinha, com alguém que estudou (e muito) para tirar este bebê daqui de dentro, abandone tudo isso e saia andando de pé por aí, primitivamente, no dia em que mais vou sentir dores na minha vida?!". Exatamente, é mais ou menos isso sim o que eu estou sugerindo. E vou explicar o porquê.

Primeiro ponto: a força da gravidade.

As coisas caem para cima, para frente ou para o lado? Aqui na nossa Terra (que não é plana), as coisas caem para baixo. Por que, então, seria mais fácil expulsar um bebê para fora da sua vagina estando deitada? Além disso, o arcabouço ósseo da pelve, em litotomia, se torna um bloco rígido, restringindo movimentos fundamentais do sacro e dos ilíacos que ampliam os estreitos da bacia para e conforme a passagem do neném. Como se não bastasse, na posição deitada, a mesma força da gravidade empurra todo o peso abdominal sobre a veia cava inferior e a aorta abdominal, diminuindo o fluxo sanguíneo nesses importantíssimos vasos que fazem as trocas gasosas entre mulher, placenta e bebê. Isso pode diminuir a oxigenação fetal, alterando o batimento cardíaco do bebê, culminando na necessidade de uso de cardiotocógrafo (aquele cinto que colocam na mãe para monitorar a frequência cardíaca do bebê), diminuindo a mobilidade da parturiente, aumentando a dor, entrando num ciclo de cada vez mais intervenções...

Segundo: evidências científicas.

Na Biblioteca Cochrane (o Google confiável dos pesquisadores e cientistas), os estudos demonstraram que a adoção das posturas verticais durante o parto apresenta muitas vantagens. Na fase da dilatação, verificou-se menor duração desse estágio do trabalho de parto, dores menos intensas (reduzindo a necessidade de intervenções farmacológicas) e  menores taxas de padrão anormal do batimento cardíaco fetal (BCF). Já no período expulsivo, os pesquisadores encontraram além da menor duração temporal e de menos anormalidades no BCF, redução dos partos operatórios, diminuição da taxa de episiotomia (incisão no períneo feminino, que aumenta a passagem para o nascimento) e maior eficiência dos puxos. Assim, as evidências mostram que mulheres que andam e adotam posturas verticais têm menos dor e trabalhos de parto que tendem a ser mais rápidos, ou seja, a mobilização e a verticalização são ótimas medidas para menos intervenções farmacológicas e obstétricas, promovendo uma experiência de parto mais positiva para mãe e bebê!

E que posturas são essas? Basta dar um Google (o das pessoas "normais" mesmo) que você encontra. Mas, para citar algumas que são bem interessantes e facilitar a busca, menciono: posição sentada ou semissentada em bancos e cadeiras de parto; posição de cócoras; posição inglesa, de quatro, de mãos-joelhos ou de Gaskin; posição sentada na bola suíça, entre muitas outras...

Evidentemente, há casos - raros, embora nosso cérebro sempre foque nos mais catastróficos - em que a postura vertical deverá ser limitada ou contra-indicada... Geralmente, são gestações de alto risco, em que é necessário manter um maior controle das condições maternas e fetais. Todavia, se você está vivendo uma gestação de baixo risco, não há nenhuma recomendação que limite a sua movimentação e a sua escolha de posições, de acordo com o conforto do seu corpo. Essa livre movimentação, associada a outras técnicas do GentleBirth (dentre as quais, mindfulness, hipnose, afirmações positivas, respiração, educação perinatal, uso do aplicativo GentleBirth), auxiliam a mulher no processo de reconquistar o seu lugar de protagonismo, ou melhor, de co-protagonismo no trabalho de parto, ao lado de seu bebê!

Como já dizia Walter Franco na canção, "Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo!". Então, de pé e avante, coragem mulher, você e seu bebê estão prontos para nascer!

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* Luciana Garutti Pereira é Doula, Graduanda em Fisioterapia pela Universidade de São Paulo (USP-SP) e Certificada GentleBirth. No Instagram, você encontra a Luciana no perfil @bloom.acolhimento

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