Estresse – O “vilão” que te impulsiona
Aryane Amorim*
Quando se ouve a palavra “estresse”, parece inevitável associá-la com um ambiente desagradável, bagunçado, cansado, doente e caótico, seja ele interno ou externo. O combate ao estresse virou tema central de muitas notícias, entrevistas e pesquisas clínicas, sempre passando a imagem de ser “o vilão do século”. E de fato, seria uma grande irresponsabilidade da ciência esconder ou minimizar os efeitos deletérios do estresse crônico e mal manejado, tendo em vista os diversos artigos científicos que comprovam claramente suas consequências na saúde humana.
O estresse gerado durante o trabalho de parto deve ser visto como uma grande dança hormonal que desencadeia alterações fisiológicas necessárias que preparam o corpo da mãe para trazer ao mundo seu bem mais precioso – o seu filho.
O pulo do gato, ao meu ver, está na grande virada de chave que podemos fazer ao interpretar o estresse. Muito além da visão de inimigo, podemos vê-lo como um grande facilitador e impulsionador dos nossos objetivos. Segundo o dicionário Oxford Languages, o significo de estresse é: “estado gerado pela percepção de estímulos que provocam excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia, levam o organismo a disparar um processo de adaptação caracterizado pelo aumento da secreção de adrenalina, com várias consequências sistêmicas.” Ou seja, a percepção do corpo aos estímulos externos cria um ambiente químico e físico capaz de nos colocar em movimento, em ação. Esse movimento gerado, se bem identificado e canalizado, é capaz de representar o combustível necessário para que a situação clímax (o estresse máximo) chegue a uma resolução. Caso essa informação seja interpretada sempre como nociva ou caso essas reações corporais sejam sempre ignoradas e mal utilizadas, o estresse que até então fazia papel de combustível pode nos intoxicar e acabar se tornando como um veneno ao corpo. Portanto, cabe a nós interpretar a mensagem, entender os sinais fisiológicos disparados nas células e coordenar a ação que teremos diante daqueles estímulos.
Essa nova visão sobre o estresse nos coloca como corresponsáveis sobre os processos de saúde-doença, por exemplo, pois diante dos estímulos, temos autonomia de escolher qual caminho percorrer e quais vias cerebrais ativar para manejar as situações da melhor maneira possível. Além disso, o conceito de neuroplasticidade corrobora e reafirma nossa capacidade de autorregulação, pois evidencia que os circuitos cerebrais podem ser mais ou menos ativados – e até mesmo reinventados –, conforme nossa percepção sobre os eventos estressores.
O estresse não pode ser eliminado e não deve ser combatido. O nosso papel é transformar uma possível resposta de luta ou fuga em uma “resposta ao desafio”, com estratégias mais saudáveis e direcionadas ao objetivo final. Grandes conquistas são feitas após grandes superações e desafios. O parto não é diferente! O estresse gerado durante o trabalho de parto deve ser visto como uma grande dança hormonal que desencadeia alterações fisiológicas necessárias que preparam o corpo da mãe para trazer ao mundo seu bem mais precioso – o seu filho. Portanto, o estresse vivenciado pela mãe durante a gravidez deve ser abordado e manejado da melhor maneira possível, permitindo que o corpo se prepare para o momento do parto. Neste sentido, o papel do GentleBirth é ser uma ponte entre o mundo que conhecemos e o mundo em que queremos habitar, nos guiando através de diversas técnicas para tornar a experiência do parto como algo positivo e que respeite ao máximo a fisiologia do corpo.
*Aryane Amorim é Médica de Família, Educadora Perinatal e Certificada GentleBirth. Você encontra a Aryane na nossa página de profissionais GB.