Meu foco é parir. Como eu faço para chegar lá?
A gente fala aqui muito da necessidade de desenvolver o FOCO. Essa frase pode parecer abstrata e de difícil alcance. Por isso decidimos falar mais sobre isso.
O que é o foco?
Imagine que você e seu parceiro ou sua parceira são os motoristas de um ônibus e sabe onde vocês querem chegar. Mas esse ônibus tem que fazer um trajeto até o destino e nesse trajeto entram pessoas nesse ônibus. Vocês não controlam quem são as pessoas que entram no ônibus. Elas entram em qualquer parte do caminho, claro, a cada que o ônibus der. Enquanto motoristas, vocês não podem escolher quem entra. No máximo, vocês podem deixar de parar em algum local por já estar com o veículo muito cheio.
Agora imagine que cada pessoa pede um percurso diferente ou quer ficar num local mais cômodo para ela. Se vocês, motoristas, decidem atender a todos, o que vai acontecer?
Vocês não vão cumprir a rota, provavelmente isso vai gerar muitas reclamações, vocês não chegarão ao destino e ainda darão muitas voltas sem satisfazer a todos. Sobrarão reclamações pelo atraso, pelo percurso e pelo trajeto etc.
Como motoristas, vocês estarão perdidos. Ainda que cheguem ao destino, não chegarão a tempo nem agradarão aos próximos passageiros que ficarão esperando por muito mais tempo.
Assim é o foco (ou, no caso, a ausência dele)!
Agora pense no foco como sendo onde vocês querem chegar e a vida sendo o ônibus.
Onde você vai chegar se cada pessoa que entra nesse ônibus decide o destino e o caminho?
Na gestação é assim. Cada pessoa tem uma opinião e acha que seu caminho é o melhor para si e para todas as demais. Construir uma rota depende exclusivamente de quem comanda o ônibus. Por isso, entendemos que somente o casal pode definir isso, junto com sua equipe.
O casal deve ser convocado a escrever sua rota, definir quando e quais os passageiros entrarão no processo, qual o caminho percorrer, quais passageiros poderão falar e a quais eles darão ouvidos. Mesmo que de forma suave e delicada, definir o foco permite que você escolha as efeitos que deseja sentir a partir das informações recebidas.
Que passageiros pegar?
Quando estamos grávidas ouvimos muitas coisas ruins acerca da gestação, do parto, da maternidade… Parece que todo mundo tem um palpite, tem uma solução ou uma história de terror para contar. Que sentimentos estas pessoas suscitam na gente? A gente precisa mesmo ouvir estas histórias? Algumas de nós não conseguem escolher não ouvir e temos ainda que lidar com dois conjuntos de palpiteiros: os inevitáveis e os evitáveis.
Os evitáveis
Onde estão os evitáveis? Em grupos de rede social que trazem histórias macabras, por exemplo. A gente pode escolher frequentar páginas e grupos das redes sociais que sejam positivos, que sejam baseados em evidências científicas, que tenham como propósito ajudar a conhecer melhor a nossa fisiologia, o sistema de saúde ou colocar a gente em contato com histórias de partos positivas.
Nas redes sociais do GentleBirth prezamos pelo compromisso com a ciência e com o que traz benefícios e facilitem o encontro com o parto positivo. Por isso as publicações são mediadas e, todas que não cumpram esses objetivos, não são autorizadas. Escolhemos quem e como se entra no ônibus!
Os inevitáveis
Muitas vezes a gente não pode deixar de ouvir um palpite, uma história chata num encontro de família, ou mesmo em nosso local de trabalho, não é? O que a gente pode fazer nessas situações? Definir o foco. Entendendo que essa história é da pessoa e não da gente, vamos ouvir e decidir o que faremos com ela. Se a gente vai entrar na vibração da pessoa que fala, ou se vai definir antecipadamente que essa história pertence a ela e não a nós, é uma decisão. A gente decide não deixar que essas histórias afetem nossa vida.
Como a gente faz isso?
No GentleBirth convidamos aos casais para, ao ouvirem os áudios do nosso aplicativo, se nutrirem de afirmações positivas, desenvolverem o vínculo com o bebê e com o seu acompanhante de parto. A construirem visualizações positivas do momento do parto, antecipando emoções e sentimentos. Ao fazerem as meditações, aumentarem a resiliência emocional para, ao serem confrontados com aqueles passageiros inevitáveis, reconhecerem o que é seu e o que é do outro. Como uma película de proteção invisível que delimita o espaço do motorista. Mas a prática deve ser diária.
O caminho fica solitário?
Não! O caminho fica mais definido. Claro que coisas podem acontecer, fazendo com que a rota precise ser alterada. Um caminho pode estar interditado, o motorista pode decidir alterar a rota, ou ser obrigado a alterar a rota. Mas nesses momentos, o motorista não poderá sair perguntando a todos os passageiros o que fazer, pois cada um terá uma opinião diferente. Ele pode até ouvir a todos, mas somente ELE poderá decidir o que fazer.
O que seria isso no parto? Seria o que chamamos de PROTAGONISMO.
Protagonismo é tomar para si todas as decisões do percurso. Para isso a escolha de uma equipe confiável, competente ajuda muito. Mas nem isso pode ser garantido, pois às vezes a gente vai parir no serviço público e seremos atendidas por quem estiver de plantão. Bom, para minimizar essa situação a gente precisa estar munida de muita informação. A gente precisa ter informação sobre nosso corpo, nossas opções, nossas emoções, nossos direitos e conhecer boas práticas.
Qualquer procedimento no corpo da gente precisa ser autorizado. Qualquer mudança de rota precisa ser negociada com o casal. Não controlamos tudo, o parto é um processo e sim, surpresas podem acontecer. As rotas podem ser alteradas, mas é preciso que o motoristas (o casal) saiba, participe das decisões, acompanhe o percurso e construa as decisões a cada parte do trajeto. A isso chamamos de protagonismo.
Uma mulher que se sinta protagonista sabe que as decisões vão ser tomadas passo a passo. Ninguém pode decidir o desfecho antes da caminhada. Ninguém pode decidir o destino antes de conhecer o caminho – e podem haver novos caminhos para se chegar ao mesmo destino.
Ao dirigir um ônibus, você ao se deparar com o obstáculo ou interdição que define um novo caminho. Lembrar que pode ser preciso modificar a rota, faz parte das habilidades do motorista. um motorista que somente sabe dirigir por um único caminho ficará preso no local interditado sem avançar. A gente precisa desenvolver uma mentalidade flexível suficiente para, desde sempre, entender que mesmo com uma rota escolhida, há muitas outras possíveis e que algumas escolhas poderão ocorrer dentro do trabalho de parto.
Por isso que a gente trabalha com o conceito de parto positivo. O parto dever ser positivo para a mulher e casal. O percurso com protagonismo, segurança, respeito e gentileza nos interessa mais do que o tipo de parto que ocorrerá. Dessa forma, independente do caminho percorrido o destino a um parto positivo estará garantido!
Texto: Monalisa Barros - Gentle Birth Brasil