Não empurre! Respire o seu bebê!
Por: Amanda Skeff*
Todos nós já ouvimos as expressões: “Faça a força na próxima contração”; “Força de fazer cocô”; “Queixo no peito, segura a respiração e empurra o seu bebê”.
É tão comum que aparece em filmes, séries médicas, e claro, são muito frequentes nos cenários de parto, inclusive com equipes treinadas em assistência humanizada (pasmem!). Mas se eu puder te dizer uma coisa, seria: Não empurre! Respire o seu bebê!
Em 2003, a OMS recomendou a remoção do puxo dirigido na prática de assistência ao parto.
Mito #1 – Faz a força de fazer cocô!
A vontade e sensação de fazer cocô é real. Isso se dá quando o bebê já se encontra no canal vaginal, pressionando o final do intestino e o reto, fazendo com que a sensação seja muito parecida com o ato de evacuar. E isso inclusive pode ou não acontecer, e é completamente normal. Afinal estamos tratando de um evento fisiológico. Mas o que não pode/deve acontecer é a orientação e execução da “força de fazer cocô” na fase do expulsivo, também conhecida como puxo dirigido ou Manobra de Valsalva – mesma técnica usada para desentupir ouvidos ou mergulho, em que a pessoa cerra os lábios e tampa o nariz com intuito de forçar o ar em direção ao ouvido médio. A Manobra aumenta a pressão intratorácica.
Essa força pode desencadear consequências que não favorecem nem a mãe, nem o bebê. Na cena de parto é comum utilizar apoio de travesseiros para ajustar a posição e instruir que a mulher coloque o queixo no peito, respire profundamente e empurre para baixo com a intenção de um movimento intestinal.
Mito #2 – Prenda a respiração e empurre!
Prender a respiração no expulsivo e empurrar tem sido uma prática para encurtar o tempo nessa 2ª fase do trabalho de parto. No entanto, essa ação compromete a oxigenação sanguínea placentária, consequentemente a oxigenação do bebê. Estudos comprovam que bebês que nascem a partir de puxo dirigido tem Apgar (método de avaliação clínica de 5 sinais objetivos do recém-nascido) menor devido à hipóxia (falta de oxigênio) do que aqueles que nascem de puxos espontâneos, mesmo que o período expulsivo seja mais demorado. Portanto, não há evidência de que essa prática seja benéfica.
Verdade #1 – Confie no seu corpo!
Permita-se perceber a resposta que seu próprio corpo gostaria de oferecer para a próxima onda/contração. Obedeça ao impulso natural. Aqui é um excelente momento para praticar o Mindfulness e perceber o seu corpo. Foque no centro, no útero, e perceba que a cada onda, seu bebê desce mais um pouquinho. Concentre-se em segurá-lo na nova posição conquistada.
Coloque seu fone de ouvido na sua faixa preferida dos áudios disponíveis no app GentleBirth. Temos faixas específicas para o momento do puxo.
Ainda nessa 2ª fase do processo de parto existe um reflexo, é natural e fisiológico, chama-se Reflexo de Fergusons ou Reflexo de Ejeção Fetal, desencadeado pelo encaixe da cabeça do bebê, e o corpo automaticamente começa a empurrar seu bebê para baixo, num impulso irresistível de fazer força. O topo do útero fica mais grosso e espesso e se move em torno de seu bebê. O movimento é fisiológico e espontâneo, não é um comando que se possa “dar” a partir de uma orientação.
A força aqui é tão instintiva quanto outros eventos fisiológicos, como vomitar, evacuar e respirar. Você não pensa nas etapas para que aconteçam, eles simplesmente acontecem.
Verdade #2 – Respire e o seu bebê fará o trabalho!
Não prenda sua respiração. Expire junto com a “força”. Inspire! E expire junto com a próxima onda, lentamente. Vocalize, se sentir vontade. O seu bebê irá descer pelo canal vaginal sem que você precise empurrá-lo. Seu útero contrai, o bebê rotaciona e desce mais um pouco. Tome o tempo que precisar, sua equipe estará monitorando constantemente você e seu bebê. E, estando tudo bem, não há motivo para pressa.
Respire o seu bebê. Permita que ele chegue, gentilmente pelo seu períneo. Evitando qualquer laceração.
E se eu ainda assim, sentir vontade de fazer força?
Faça a força natural, seguindo seus instintos e concentrando-se na respiração. Apenas evite prender a respiração.
Acesse a faixa “Aprendendo a fazer força no puxo”, na sessão de respiração do App GentleBirth.
Porque então os médicos insistem em guiar as mães a fazerem força? Meu bebê corre perigo?
Caso a mãe demonstre dificuldade em perceber as contrações, como muito acontece quando é feito uso de analgesia, é possível que a equipe inicie a condução na intenção de auxiliar a mãe nessa fase. Em outros casos, pode ser que pela intenção de encurtar o período expulsivo. E, no pior cenário, se constatado sofrimento fetal, pode haver a iniciativa por parte da equipe para acelerar sim o período por motivos de preservação do bem-estar materno fetal. Mas a verdade é que, como disse Tracy Donegan, estamos lidando com a intervenção mais desafiadora da obstetrícia atual – o relógio.