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Tudo e um pouco mais sobre preparação mental para o parto, gestação, puerpério e parentalidade.

Uma jornada até o TEDx

Uma jornada até o TEDx

A história abaixo foi contada por Marcella no TEDx Vitória da Conquista (BA) que aconteceu no último dia 30/11/2019 na cidade. O GentleBirth está nas histórias que contamos desde sempre, só não tínhamos um nome para dar. Esse relato é de Marcella, aconteceu em 2014, mas reflete ainda hoje o caminho de tantas mulheres brasileiras atravessadas por histórias de medo, de dor, de desrespeito às suas vontades, e que, no entanto, ressignificam suas jornadas ao longo da vida.

Essa é a história de como nascem as mulheres e as famílias. Não por coincidência, é a minha história também. Vim de uma família de mulheres fortes, moramos até pouco tempo juntas: minha avó, minha mãe, eu e duas irmãs mais novas.

Desde criança, escutei de minha mãe que o meu nascimento havia sido muito difícil, que o médico tinha a abandonado às vésperas do parto. A história repetida por ela era que quase morreu no parto, que descobriu que tinha uma “bacia estreita”, que precisou de um balão de oxigênio, que fez uma cesariana de emergência e que nunca mais poderia ter um parto normal. Nasci roxinha com unhas grandes, a visão dos bebês que “passam da hora de nascer” - anos depois fui entender que bebês não respiram logo o oxigênio, todos nascem roxos. A informação seguinte era a cereja do bolo: quando perguntava onde estava meu pai, ela me respondia que estava “bebendo para comemorar”. Pensava que aquele nunca seria um caminho para mim.

Eis que fico adulta, conheço um homem sensível e começo a me encantar com a possibilidade de vivermos juntos uma história com filhos. Engravidei. Escolhemos um bom médico, fizemos todos os exames solicitados, cuidei da alimentação, fiz exercícios, tudo dentro do padrão para uma gestação segura. Ainda assim, sentia falta de relações mais próximas, pessoas que estivessem vivendo o mesmo momento que eu.

Surge então um convite de uma pessoa que estava vivendo um momento como o meu e que queria muito dividir também essa experiência. Ela propôs o primeiro encontro em forma de roda: éramos três gestantes, uma puérpera, duas enfermeiras e uma obstetra. Nosso objetivo comum era o encontro e a troca. Queríamos conversar sobre curiosidades, medos, coisas que não tínhamos tempo ou não nos lembrávamos durante a consulta mensal com os obstetras. Os maridos não participavam dessa roda.

Foram naqueles encontros, ouvindo histórias, medos, dúvidas, todas tão parecidas com as minhas, que descobri que aquilo era mais que apenas um bate-papo. Era ressonância. A roda se tornou um lugar de acolhimento que eu queria muito estar. Lá eu não era nem ingênua, nem especialista. Eu apenas tinha uma história que importava também a elas. Sonhávamos com os nossos partos e nos comprometíamos com o retorno para contar como havia sido.

Em uma dessas rodas contei sobre uma memória inspiradora para mim. Antes de engravidar, fiz um curso sobre a Teoria do Apego e foram dias de imersão na temática da maternidade. No segundo dia, uma mulher entrou na sala, estava recém parida, sentou-se ao meu lado com seu bebê enrolado no sling. Ela nos contou que aquele parto havia sido muito importante para ela, que era muito diferente do que sentiu na cesariana do primeiro. Aquilo me despertou a curiosidade para o parto normal e uma vivência diferente da que minha mãe me contou lá atrás. Comecei a buscar informações e me aprofundar no desejo do parto normal.

Com 34 semanas, voltei ao meu médico e depois de algumas tentativas de acordos do que queria viver, disse novamente que meu desejo era ter um parto normal. De uma maneira muito carinhosa e gentil, ele disse: “Se tiver tudo bem, será. Confie em mim.” Confie em mim foi uma frase que me arrebatou. Não queria confiar nele, queria confiar em mim, no meu corpo. Na consulta seguinte disse que não faria o parto com ele. Inventei um motivo qualquer e mudei de profissional.

Com 39 semanas e 6 dias, começou minha jornada até o parto. Todas as histórias que tinha ouvido na roda me atravessavam na busca de explicações do que eu sentia. Eram elas que me faziam ter a certeza que tudo estava no caminho certo. Não contei para a minha mãe que havia entrado em trabalho de parto. Não queria me encontrar com os medos dela.

Meu companheiro, ah que boa escolha! Ele comemorou sim, cada centímetro de dilatação, grudado em mim. Não o larguei nem um minuto, ele conhecia minhas preferências e foi o guardião dos meus desejos. A jornada não foi fácil, mas foi importante. Vivi tudo como tinha escolhido. O rumo da história começou a mudar quando pedi uma analgesia e o procedimento foi forte demais. Perdi temporariamente os movimentos das pernas, não pude ficar na posição que escolhi. Minha médica precisou usar o fórceps de alívio para ajudar na saída de Amelie.  Nesse momento ela precisou de ajuda de um outro profissional, aquele mesmo médico que ficou comigo 34 semanas e que conhecia o que queria e o que não queria viver. Ele se aproximou e fez um corte na minha vagina, sem pedir a minha autorização. A episiotomia é comum na prática dele, mas no meu corpo não.

Amelie nasceu bem, mamou na primeira hora, foi para o quarto comigo. No outro dia, o médico foi até mim e me parabenizou pelo nascimento da pequena. Não consegui dizer a ele o que pensava. Tive medo. O sistema é muito forte. Me submeti. Esse sistema está sob mim, mas também sob ele, e isso repercute em uma prática.

Desse dia em diante, a roda se tornou a minha forma de resistência. Entendi que as histórias podem ser recontadas e que os nossos encontros nos fortalecem. Hoje, Amelie tem quase seis anos, a roda um pouco mais de seis. Eu mudei muito nesse tempo. A roda também mudou. Não somos mais uma roda de gestantes, somos algumas, todas com o mesmo objetivo: o empoderamento feminino e o fortalecimento das famílias. A roda é cheia de homens que recontam a sua trajetória após terem vivido a experiência do parto. E é dado a eles um lugar especial, o de pai. 

Chorei duas horas direto quando fui para o quarto com Amelie . Olhava para ela e pensava na força da natureza e como o meu corpo havia produzido “uma pessoa”. E essa pessoa era uma mulher, isso honrava a minha ancestralidade. Naquele dia decidi que trabalharia para que ela não precisasse sentir os mesmos medos que nós, minha mãe e eu, sentimos e é isso que faço hoje na roda e no GentleBirth.

Orquestra hormonal no Trabalho de Parto

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O que é o GentleBirth?

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