“Godoy, a bolsa estourou. Vem que vai nascer!”
Acordei 7:45 com dor nas costas... final de gravidez é assim, não tem muita posição pra dormir e alguns desconfortos viram rotina. Mas eu senti que a dor estava diferente. Levantei, encontrei o Godoy saindo pra fisioterapia e comentei que estava com dor na lombar. Ele saiu, a dor passou.
Lilah ainda dormia e eu decidi ir pro banho lavar a barriga (na noite anterior eu tinha participado de uma despedida e pintura da barriga) e fazer uma visualização do trabalho de parto (sugerido pela Talita na noite anterior). Levei a bola de pilates por chuveiro, sentei e deixei a água cair. Permiti que meu corpo experimentasse todas as sensações do trabalho de parto. Fiz movimentos como se tudo estivesse acontecendo. Fiquei uns 40 minutos ali, sozinha, acolhendo todas as emoções que vinham e escolhendo como eu queria viver o nascimento da Elis. Criei afirmações positivas que me dariam força e suporte quando tudo começasse.
Lilah acordou e eu a convidei pro banho. Ela entrou, esfregou a tinta e me ajudou a voltar pra realidade. Saímos do banho e tive uma linda surpresa: meu tampão estava saindo!
*tampão é um muco que protege a entrada do útero e a saída dele pode indicar que há dilatação.
Eu senti uma leve pressão na barriga, como um abraço, totalmente indolor. Por curiosidade, olhei no relógio e conferi a hora. Logo depois senti outra pressão, tão leve e indolor quanto a anterior. Olhei novamente no relógio e tinham se passado 4 minutos. Mais uma vez... mais 4 minutos. Ok! Entendi que meu corpo estava começando a trabalhar pro nascimento da Elis sem manifestar dor alguma.
Dentro deste tempo, liguei pra o Godoy pra contar que tinha perdido o tampão, mas que não tinha dor. Ele decidiu voltar pra casa pra dar uma arrumada em tudo - parto domiciliar (nossa escolha desde o começo) não tem o serviço hoteleiro dos hospitais, então quem tem que dar conta de tudo somos nós mesmo!
Também liguei pra Ari, minha obstetriz que assistiria o parto e que ficou de prontidão pra quando o trabalho de parto engrenasse. Avisei minha irmã e minha mãe. Meus pais estavam em Promissão e viriam pra ajudar com a Lilah, caso ela não quisesse acompanhar o nascimento da irmã ou se cansasse de ficar dentro de casa. Isso tudo aconteceu entre 9h e 9:15.
Fui pra cozinha preparar o café da manhã e senti que as pressões começavam a mudar. Elas já tinham características de onda, eu sentia que iriam começar, que tinha um ápice e que logo começavam a aliviar. Ainda era uma pressão, sem dor, e na minha percepção estavam durando entre 10 e 20 segundos. Mas como já tinha característica de contração de trabalho de parto, eu decidi que a cada nova onda eu iria me movimentar, movimentar o quadril, fazer agachamento e rebolar pra ajudar.
Fui preparar um ovo mexido e quando coloquei o ovo na frigideira senti que uma onda estava vindo. Virei de costas pro fogão, me apoiei no balcão da cozinha e fiz todos os movimentos que senti vontade. Quando passou voltei pro fogão e o ovo estava frito 🍳😬😅
Claramente não estava durando 10 ou 20 segundos! Decidi cronometrar. A contração seguinte já veio com uma dor leve e durou 50 segundos, mais uma... e outra... todas durando entre 50 e 70 segundos e com intervalos de 4 min. Apesar de não ter dor forte eu estava em trabalho de parto.
Quase 10h eu liguei pra Ari, contei como estava e avisei que estava indo pro chuveiro. Ela perguntou se eu queria que ela viesse e eu disse que não, que ainda estava muito no começo e ela pediu pra avisar quando as contrações se intensificassem, pois estava pronta e chegaria em casa em poucos minutos.
Fui pra o chuveiro e a Lilah quis ir comigo. A bola de pilates já estava lá dentro e fiquei sentada, movimentando o quadril e deixando a água cair nas minhas costas. Fiquei assim por duas ou três contrações e senti vontade de mudar. As contrações tinham uma intensidade leve. Me debrucei sobre a bola, a lombar embaixo do chuveiro e eu concentrada em vocalizar e manter meu corpo relaxado.
Lilah conversava o tempo todo e entre uma contração e outra precisei explicar que a mamãe precisaria de silêncio em alguns momentos e eu a avisaria. A presença dela colaborou pra que eu me preocupasse com uma onde de cada vez, com atenção plena em cada uma.
De repente senti uma contração forte. Não encontrei posição que aliviasse. Inspira, expira... minha nossa o que aconteceu? Tava tão tranquilo até então! Passou e voltei a relaxar... “vou vocalizar na próxima pra relaxar meu corpo” pensei... A próxima veio e consegui vocalizar por poucos segundos e já voltei a me contorcer... “estou na transição! Que rápido!”
*transição: fase do trabalho de parto em que as contrações ficam mais próximas, mais intensas e a dilatação já está entre 7 e 9 cm.
Passada a terceira contração pedi pro Godoy ligar pra Ari vir. Apesar de um trabalho de parto ser diferente do outro, eu sabia que do começo da transição até o nascimento do bebê poderia levar horas! Ari avisou que chegaria em 20 minutos.
Nisso, resolvi fazer um toque em mim mesma e uma gota de sangue caiu no chão. Lilah ficou com medo e pediu pra sair do banho. Godoy veio tirá-la e a levou pro quarto. Mais uma contração, totalmente diferente das anteriores, novamente sem dor, e a bolsa estourou. Coloquei a mão instintivamente e senti a cabecinha dela preenchendo meu períneo.
“Godoy, a bolsa estourou. Vem que vai nascer!”
Ele chegou no banheiro imediatamente: “como assim vai nascer? Você acabou de entrar no chuveiro!”
“Você vai querer pegar?” Perguntei. “Sim” 😳
“Então coloca a mão que a cabecinha vai sair agora!”
Mais uma contração, não fiz força, deixei meu corpo trabalhar e a Elis empurrar. Senti as perninhas dela me empurrando e a cabecinha saiu.
Godoy estava assustado, Lilah na porta do banheiro acompanhava tudo “Olha, minha irmã nasceu!”
Fiz um carinho em sua cabecinha “Oi filha!”
Godoy relaxou! A gente daria conta de fazer aquilo juntos!
Senti mais uma contração vindo e avisei “Godoy, fica com a mão firme, o corpo vai sair e estará escorregadio”...
Elis nasceu nas mãos do pai e veio imediatamente pro meu colo. Com uma linda e apertada circular de cordão (cordão amarrado no pescoço). Tirei a volta do cordão do pescoço e trouxe ela pro meu peito. Elis não chorou. Ela fazia uns barulhinhos bem delicados.
Enrolamos algumas toalhas e fui pra o quarto, com Elis no colo, cordão umbilical ligado à placenta que ainda estava dentro de mim. Deitei, me ajeitei, coloquei ela pra mamar e depois de alguns minutos a equipe e meus pais chegaram. Depois de examinada mais uma surpresa boa: sem laceração!
Nunca tivemos a intenção de ter um parto desassistido. A presença da equipe é fundamental pra garantir a segurança do parto domiciliar 😉
Elis nasceu por volta das 10h45 da manhã. Num trabalho de parto praticamente sem dor, de muita conexão minha com meu corpo, pesando 3kg e medindo 47,5cm exatamente igual a irmã!
Não temos nenhum registro fotográfico do momento, mas temos as mais doces lembranças deste dia e somos extremamente gratos a todos que fizeram parte deste momento:
@arih_matos
@patiremedi
@refavaron
@ro_herrerag
@leisamanhani
@jairmanhani
Parabéns pelo seu primeiro aniversário filha! Que a vida seja divertida e abundante!
NOTA: esse poderoso e doce relato de parto foi escrito por Maria Alice em seu perfil no Instagram (@mamanhani) quando Elis completou um ano. Maria Alice teve uma experiência de parto domiciliar em família, ela é uma das mulheres poderosas que fizeram nosso curso de preparação mental para o parto e utilizou lindamente as ferramentas que defendemos para mergulhar em seu parto positivo. Gratas por nos permitir compartilhar aqui, Má! Seu relato é pura inspiração.