As Mudanças do Corpo na Gestação

Allayana Sampaio*

O corpo da gestante passa por diversas mudanças nos meses em que carrega e nutre o bebê em seu útero. Costumo dizer que o corpo da mãe é a primeira casa que temos, é ali que a criança recebe todos os elementos para crescer e se desenvolver até o nascimento, então é natural que haja mudanças fisiológicas e anatômicas tão significativas para a mulher, de dentro pra fora. Essas mudanças trazem grande repercussão emocional, mental e física, demandando uma necessidade de preparo em todos esses campos, para atravessar o momento de forma mais tranquila e prazerosa. Com o aumento progressivo do bebê, do diâmetro abdominal, notamos a mudança do padrão postural (geralmente com uma projeção do corpo para frente), mudança respiratória, sobrecarga muscular, acentuação das curvaturas da coluna, alterações na forma de caminhar, afrouxamento das articulações, enfim, todo o corpo é ajustado para abrir espaço para o útero crescer.

Se observarmos esse corpo elástico, vivo, que se movimenta, podemos aprofundar na percepção de todo o conjunto de músculos que participa desse processo de transformação, alguns se alongando mais, outros necessitando estabilizar as articulações que ficam mais frouxas nesse período devido a ação do hormônio relaxina, e outros ainda que ficam sobrecarregados com o peso crescente do bebê. Posteriormente, alguns músculos são protagonistas no trabalho de parto, a exemplo do Assoalho Pélvico.

O Assoalho Pélvico, também conhecido como períneo, é um conjunto de músculos, fáscias e tecidos que ficam na região mais baixa da pelve, e que tem a importante função de sustentar órgãos como a bexiga, intestino e útero. É como uma cama elástica, que tem também total relação com a nossa sexualidade. Na mulher, possui aberturas para ânus, uretra e vagina, permitindo, quando relaxado, a evacuação, a micção e o parto vaginal, respectivamente. Esta musculatura desempenha importante papel na gestação: quando está fortalecido, apoia melhor o peso do bebê e evita a perda urinária. Durante o trabalho de parto, auxilia no posicionamento do bebê, no giro da cabeça ao passar pela vagina e, no pós parto, na prevenção de possíveis disfunções genitais, sexuais e a incontinência uurinária ao fazer algum esforço. Estudos apontam a incontinência urinária como uma das principais disfunções após o parto vaginal, o que indica a necessidade de atenção e preparação do Assoalho Pélvico antes, durante e após a gestação.

Os músculos abdominais, que se estiram, necessitam de força para manter o tronco organizado e sustentar o crescente peso do bebê que sobrecarrega a coluna lombar. Também se expandem músculos como os oblíquos interno e externo e o transverso do abdome. Eles atuam como uma parede que reveste o tronco e auxilia em sua estabilidade, como se fossem um cinturão. Falando em estirar e abrir espaço, os retos abdominais, esse par de músculos que fica à frente do nosso abdome, se separam à medida que a barriga aumenta, submetendo a parede abdominal à grande tensão e alongamento. À essa separação chamamos de diástase, que também requer atenção na gestação e após o parto para que tenha seu fechamento de forma efetiva.

A mulher consciente do próprio corpo e potência caminha para um parto ativo segura do seu protagonismo na escolha de parir, movimenta-se melhor no trabalho de parto para encontrar posições mais favoráveis e garante maior satisfação em sua experiência. Praticar exercícios bem orientados e adaptados para cada período gestacional, considerando a ação dos grupos musculares envolvidos no parto, traz maior bem estar e qualidade de vida, diminuição de dores decorrentes das mudanças posturais e físicas, consciência de que seu corpo pode ser uma ferramenta que facilita o processo, o que só traz benefícios para o momento de parir.

Tudo se movimenta, impulsionando a criança à saída para os braços da mãe, para o nascimento de um e o renascimento da outra.

Considero importante dar atenção também às emoções e sentimentos. Além dos cuidados com o corpo físico em metamorfose, buscar conexão, equilíbrio mental e emocional são muito válidos para essa preparação, para manter a harmonia, saúde e bem estar em todos os níveis. Em minha experiência estive presente em na roda de gestantes do Cirandeiras (semente no GentleBirth Brasil) e busquei atividades que me auxiliaram a ter momentos para cuidar do corpo da mente, da espiritualidade e das emoções, o que foi fundamental para conseguir chegar ao parto natural mais segura da minha escolha.

Perceber o corpo, a melodia que acontece quando cada parte de si se transforma e se doa em conjunto para formar um novo corpinho (ou novos corpinhos!) é algo maravilhoso. O corpo feminino é projetado para se expandir, nutrir, ser a casa temporária de outra pessoa e depois voltar para dimensões menores. Muitas dessas mudanças deixam suas marcas mas, ao final, vale tudo à pena! É como diz a poesia: “Depois que um corpo comporta outro corpo, nenhum coração suporta o pouco”.

Um bom parto para você!

*Allayana Sampaio, mãe, Fisioterapeuta, especialista no Método Pilates. Atua com gestantes desde 2013. Passou por um parto natural que foi transformador em sua vida. Para conhecer o trabalho de Allayana, acessa seu perfil no Instagram @fisioallayanasampaio

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Referências do Texto:

BORGES, J. B. R., et al. Incontinência urinária após parto vaginal ou cesáreo. Einstein. 2010; 8(2 Pt 1):192-6

CALAIS-GERMAIN, B. O Períneo Feminino e o Parto, Manole, 2013

FREITAS, A.S., et al. Atuação da Fisioterapia no parto humanizado. Rev. DêCiência em Foco 2017; 1(1): 18-29.

MACHADO, B.A., SANTOS, R.S., LEME, A.P.C.B., JÚNIOR, M.C.M.S. Ocorrência de sintomas urinários no pós parto vaginal imediato em primíparas. Revista Pesquisa em Fisioterapia,  2017;7(3):359-368.

SABOIA, M. D., et al. Eficácia das intervenções realizadas no pós-parto para prevenir incontinência urinária: revisão sistemática. Rev. Bras. Enferm. vol.71, supl.3 Brasília, 2018.