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Tudo e um pouco mais sobre preparação mental para o parto, gestação, puerpério e parentalidade.

“A gestação é uma jornada de dentro para fora”

“A gestação é uma jornada de dentro para fora”

Por: Júlia Mignac*

Gostaria de iniciar esse texto trazendo uma pequena reflexão: ao saber que estava grávida, quando foi que pensou no instante do parto? Confesso que levei alguns meses para que essa pergunta surgisse na minha cabeça, e quando ela finalmente apareceu, fiquei me perguntando por que havia demorado tanto. A resposta veio durante os meus estudos sobre perinatalidade e parentalidade. Percebi que num primeiro momento estava me entendendo enquanto uma mulher grávida, mudanças hormonais aconteciam, assim como de humor, de comportamento e físicas no meu corpo, definitivamente não era mais a mesma pessoa em muitos aspectos. 

Minha primogênita nasceu há oito anos e, mesmo que não pareça tanto tempo assim, eu não tinha acesso às informações sobre o gestar e o parir que tenho hoje. O que sabia era o que acompanhava nos sites que me inscrevi para ter as notícias mês a mês de como estaria o desenvolvimento do meu bebê, tudo era para ela, o meu foco estava nela e não em mim. Imagine o final dessa história? Pois é, uma mulher que não pôde escolher a melhor via de parto por inúmeros fatores. Citarei aqueles em que considero mais importantes: desinformação, falta de rede de apoio, referências culturais, minha própria história de vida e nascimento. Toda essa mistura me gerou medo, fique paralisada, sem consciência do que gostaria de ter vivido naquele momento,  eu estava fora de mim.

“A gestação é uma jornada de dentro para fora” li um dia desses em um artigo de Mary Annie Pereira (2009), algo que me tocou profundamente pela simplicidade de como foi dito e pela complexidade do que de fato é. Percebi que para parir precisava estar em mim, consciente do que queria, uma construção que precisava ser feita bem antes do parto acontecer. E cá estou para falar um pouco disso para você. 

A mulher no espelho

Quem é essa mulher que você olha através do espelho? O que consegue ver do real, das mudanças que enxerga? Mudanças físicas, diferenças no sentir, na percepção de mundo? Como se percebe ao tocar o seu corpo? Qual a temperatura? Onde é mais frio e mais quente? Como é a sua respiração? Curta? Entrecortada? Até onde a sua respiração consegue chegar? Fica restrita ao peitoral ou consegue ir um pouco mais em direção a barriga? Essa série de perguntas ajuda a ter o contato com o próprio corpo e a entender o quanto ele revela a sua forma de estar no mundo.  A mente e o corpo estão conectados, ou melhor, a mente é um aspecto do corpo, então quanto maior a percepção corporal mais entendimento se tem de quem se é, e do que se quer. 

O corpo ancora a mente

É justamente nele que as mudanças mais perceptíveis acontecem durante a gravidez. A consciência corporal ajuda a mente a estar no presente e manter o foco, então, quanto mais se está no corpo, maior é a capacidade de autopercepção, autodomínio e autoexpressão. Esses aspectos são fundamentais no trabalho de parto porque possibilitam a confiança em si e a entrega necessária para o momento, e podem ser construídos a partir de atividades que permitam um maior contato consigo, desde que realizadas de maneira mais consciente: caminhar, dançar, yoga, meditação e tudo que pode possibilitar a atenção plena. 

O movimento corporal ameniza tensões e permiti que a energia circule. O resultado é um corpo grávido pulsante, vibrante e conectado com a expansão o que oportuniza prazer e satisfação. Sim, apesar da tendência social e cultural de associar o parto a dor e desprazer, é possível pensar e sentir diferente. Se eu te disser que existem pouquíssimos receptores para dor no útero e que muito do que se sente é construído mentalmente? E que muitos dos hormônios liberados durante o parto estão presentes durante o ato sexual? Sendo assim, pode-se reprogramar a ação desses hormônios de forma a ter benefícios durante o parto, por exemplo: se a mulher sente-se segura, acolhida, e cuidada, oxitocina e endorfina são produzidas de forma mais eficaz o que ameniza a dor e propicia as contrações, se o medo é minimizado a ação da adrenalina não acontece antes do previsto. 

 Você precisa vestir o seu poder, acreditar no seu corpo que é o contato com o chão, realidade e potência, que conduz a lugares e auxilia nas escolhas. As sensações são aliadas, quanto mais você está sintonizada com o seu corpo, mais vitalidade sente e menor será o medo. 

Um parto positivo não é o parto idealizado, é o melhor parto diante do que acontece naquele momento. É um parto em que você e seu bebê são protagonistas, no qual você é respeitada, informada e escutada.

Acredite, é possível estar calma, confiante, e no controle. 


* Júlia Mignac é mãe de Aimée e Caio, Psicóloga Clínica e Perinatal, Analista Bioenergética IlBA e Educadora Perinatal GentleBirth. Você pode encontrá-la no Instagram em @juliamignacpsi

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