A Resposta ao Medo e o Parto
* Mariana Godoy
É de comum conhecimento que o corpo e a mente estão intimamente ligados, e que pensamentos e emoções nos afetam fisicamente. Quem nunca sentiu um embrulho na barriga, mãos suadas e o coração acelerado só de pensar naquela entrevista de emprego que vai ter amanhã?
O corpo tem dois sistemas que funcionam de forma automática: o sistema nervoso simpático (SNS) e o sistema nervoso parassimpático (SNP). O SNS é aquele que se ativa quando sentimos medo ou sofremos uma ameaça. Ele desencadeia a resposta de luta ou fuga e nos prepara pra nos defender ou escapar de uma situação de perigo. Por exemplo, se estamos caminhando e nos deparamos com um tigre. No instante em que uma parte do cérebro chamada amígdala percebe a ameaça, seja ela real ou imaginária, o SNS é ativado e adrenalina é liberada na corrente sanguínea. A adrenalina causa diversas reações no corpo, nos colocando em modo de sobrevivência. Agora, qualquer função do corpo que não estiver focada em nos ajudar a fugir ou lutar, fica em segundo plano. A adrenalina acelera batimentos cardíacos, aumenta pressão arterial, redireciona a oferta de sangue pros músculos dos braços e das pernas, dilata as pupilas, nos deixa em alerta, aumenta a frequência respiratória, entre outras coisas.
Esse sistema é fundamental pra nossa sobrevivência e explica porque a adrenalina atrasa ou interrompe o trabalho de parto (TP), se ele ainda não estiver bem estabelecido. Pensa comigo, se durante o TP surge uma ameaça, por exemplo aquele tigre, provavelmente não é a melhor hora pro bebê nascer. O SNS garante que a mãe tenha condições de fugir e encontrar um local seguro pra dar à luz. Na verdade, talvez, para as civilizações mais primitivas, ele fosse mais útil do que pra mulher moderna. É que a mente não consegue diferenciar um perigo real de um não real e em ambas as situações a adrenalina entra em ação. Por exemplo, ao assistir um filme de terror, por mais que saibamos que é tudo encenação, ficamos tensos, sentimos medo, ficamos em estado de alerta e com o coração acelerado. Isso acontece porque o cérebro sentiu medo e o SNS foi ativado.
É muito improvável que uma mãe se depare com um tigre durante o trabalho de parto hoje em dia, mas há muitas outras situações que podem fazer com que a resposta do corpo dela seja exatamente a mesma. Estar cercada de médicos, enfermeiras e outras pessoas desconhecidas na hora do parto, estar em um lugar que não lhe é familiar, onde não se sinta à vontade, não ter voz em relação às decisões que estão sendo tomadas. Tudo isso pode gerar medo, apreensão e ansiedade na mãe e vai, inevitavelmente, ativar o SNS e liberar adrenalina. E nós já vimos o que a adrenalina pode fazer se presente no momento em que a mãe precisa estar mais relaxada.
Vamos conseguir evitar todas as situações que podem causar medo? Não, mas podemos aprender a reagir a elas de forma diferente e usar essa adrenalina a nosso favor. É quando conseguimos transformar a resposta de luta ou fuga na resposta ao desafio.
Na resposta ao desafio, entendemos que todas as alterações que ocorrem no corpo em consequência da liberação de adrenalina estão nos preparando e dando condições de vencer um desafio. Isso é muito importante na fase expulsiva do parto, quando a adrenalina se torna essencial e ajuda a mãe a passar por esse momento que exige tanto dela. Quando a mãe precisa de uma força que ela não sabe de onde vai tirar... nessa hora, a adrenalina lhe dá essa força! E o resultado vai ser vencer um dos desafios mais incríveis da vida, que vai colocar nos seus braços aquele serzinho que ela gestou e que mal pode esperar pra trazer tantos outros desafios pra ela vencer!