O que a psicologia do esporte tem a ver com parto?
Você já imaginou um técnico aproximando-se de a um atleta na hora da prova de uma final olímpica e dizendo a ele que acha que ele não vai conseguir por que seu corpo é muito pequeno? Ou que no momento da prova comece a dizer dos riscos de perder a prova? Imagine o técnico do Usain Bolt falando isso para ele na hora da prova? A gente fica até com raiva, não é? É impensável!!!
Mas já observaram que isso é feito com as gestantes o tempo todo, já quando iniciam a gestação?
Pois é, a comparação com uma prova de uma final olímpica parece distante de um parto para você agora?
Pois não para nós do GentleBirth. O parto é a atividade de mais alto desempenho a que um corpo pode se submeter. É o momento em que todo o seu metabolismo, toda sua orquestra hormonal está preparada para trabalhar, ejetando a cada momento o hormônio correto para fazer com que tudo ocorra adequadamente. Há hormônios para aumentar a imunidade do bebê, outro hormônio que vai facilitar sua transição entre receber oxigênio pelo cordão e passar a respirar sozinho, outro que vai facilitar a limpeza da água de seu pulmão. Há hormônios que promovem o vínculo mãe-bebê e que também promovem as contrações. Há hormônios que promovem uma analgesia natural, outros que promovem a força e a capacidade de estar alerta para o puxo final. Há hormônios que promovem a sensação de prazer e de bem estar. Para que toda essa orquestra toque cada instrumento adequadamente é preciso que as condições do ambiente também estejam propícias. É necessário que a mulher acredite profundamente em sua capacidade de parir.
A nossa cultura não é propícia a isso, pelo contrário. Todo mundo sempre conhece alguém que teve problemas no parto, todo mundo acredita que uma cesárea eletiva previamente agendada é a melhor maneira de manejar a ansiedade e o medo, aplaca a ansiedade dos demais e promove alguma sensação de controle.
Além da orquestra hormonal precisamos que nossa respiração esteja em sintomia com o que está acontecendo com nosso corpo, precisamos da força muscular de nosso assoalho pélvico, da força de nosso útero, das nossas pernas, ou seja, todo o nosso corpo está envolvido e pronto para grandes explosões de uso e força, assim como numa prova a que um atleta está submetido.
Tracy ao conhecer a Psicologia do Esporte encontrou nesta especialidade da psicologia uma importante ferramenta para auxiliar a mulher a vencer esta prova tão intensa que é o parto.
A Psicologia do Esporte, de acordo com Kátia Rubio, vem compor um espectro denominado Ciências do Esporte, compostas por disciplinas como antropologia, filosofia e sociologia do esporte, no que se refere à área sociocultural, incluindo também a medicina, fisiologia e biomecânica do esporte, demonstrando uma tendência - e uma necessidade - à interdisciplinaridade.
A psicologia do esporte trabalha com temas como motivação, personalidade, agressão e violência, liderança, dinâmica de grupo, bem-estar psicológico, pensamentos e sentimentos de atletas e vários outros aspectos da prática esportiva e da atividade física. A preparação emocional tem sido apontada como o requisito diferencial na preparação de atletas de alto rendimento.
Quando no GentleBirth utilizamos a Psicologia do Esporte e transpormos para a cena da assistência pré-natal, falamos de:
Cuidar de nossos pensamentos
A qualidade de nossos pensamento pode ser determinante para a construção de imagens mentais positivas que antecipam nossos sentimentos e aumentam a possibilidade de alcançarmos a meta desejada.
Cuidar de nossos medos
Localizar nossos medos e enfrentá-los significa apropriarmo-nos do que está nos fazendo recuar. Não será fingindo não sentir medo que o venceremos. Ultrapassar o medo pode demandar imergir nele para construirmos a resiliência. Olhar de frente para o que sentimos nos ajuda a construir novas formas de reagir ao medo.
Construir o protagonismo
Saber-se respeitada em seus desejos é um grande passo na construção de seu protagonismo na cena de parto. Mas atenção: protagonismo não é o mesmo que solidão, pelo contrário! Você sabe que é protagonista quando exige a presença de atores que lhe dão conforto e confiança na cena de parto. Seja o/a parceiro(a), seja sua doula, seja a equipe escolhida. Nesse cado a informação é fundamental para a segurança, bem como a escolha de uma equipe de confiança.
Ter um guardião/uma guardiã de suas preferências
Entregar-se à sua “prova olímpica" demanda a confiança de que alguém esteja atuando nos bastidores para garantir todas as condições necessárias para uma grande final. Alguém tem que assumir o lugar de guardião de suas preferências. Os materiais precisam estar garantidos, a pessoa que vai organizar o cenário precisa estar alerta e participativa nesta função. Esse é seu suporte para que você possa se entregar à partolândia e à enxurrada hormonal que lhe inundará. Não dá para se entregar ao trabalho de parto e ao mesmo tempo ter que ficar negociando com a equipe se vai ter episiotomia ou não.
Definir a motivação e direção do seu esforço
A direção do esforço refere-se tanto à busca individual de um objetivo quanto aos atrativos de determinadas situações. É importante conhecer os benefícios da vivência do processo de parto para o seu corpo e para o seu bebê, assim você garante para que direção conduz os esforços que lhe motivam a vencer a “maratona”.
Definir a motivação e intensidade de seu esforço
Intensidade do esforço refere-se ao grau de energia que uma pessoa despende no cumprimento de uma situação particular. Fazer uma autoanálise do esforço que será despendido na cena do parto, reconhecer-se com força para tal, definir o que você está disposta a viver e se preparar para isto pode ser fundamental para a vivência do processo tal com ele se apresentar.
Ativando a Motivação Extrínseca
A motivação extrínseca é aquela referenciada em fatores externos como o reconhecimento social, o elogio, premiações que interferem e/ou determinam uma conduta. O ambiente tem que estar protegido. A incidência de notícias ruins de mensagens desempoderadoras, de histórias com desfechos negativos não acrescentam em nada na sua preparação. Imagine um pugilista que fique somente lendo histórias de perdedores? Na gestação busque grupos protegidos com histórias que te ajudarão, procure uma roda de gestantes, encontre seus pares.
Aprenda a manejar a ansiedade
É comum a ansiedade interferir no resultado final do atleta em suas provas. Spielberg define o estado de ansiedade como um estado emocional caracterizado como subjetivo, consciência da percepção de sentimentos de apreensão e tensão, acompanhado pela associação com o sistema nervoso autônomo. Essa condição varia conforme o momento e flutua proporcionalmente para perceber como reagir dentro de uma situação imediata. Aprender a manejar adequadamente o nível de ansiedade e preponderante para o controle. Manter-se calma, confiante e no controle de sua mente. Os exercícios de mindfulness são fundamentais para o desenvolvimento desta agilidade de estar presente conscientemente.
Desenvolver uma boa relação com estresse
O estresse não é necessariamente ruim. No parto há um momento em que precisamos do estresse, da tensão para a ação. Esse momento é o expulsivo. Martens afirma que estresse é um processo que envolve percepção de um desequilíbrio substancial entre a demanda do meio e a capacidade de resposta. Poder se entregar a esse momento, ativando uma maior conexão com seu corpo, ajudará você vivenciar o expulsivo com a energia que ele exige.
Usamos no GentleBirth duas ferramentas importantes para abarcar todos estes pontos.
A primeira é o Workshop para casais gestantes. No workshop todas as estratégias e ferramentas para vivenciar o trabalho de parto estarão sobre a mesa e o casal vai construir seu kit de ferramentas pessoais, reafirmando alianças e estabelecendo a parceria de parto mais profundamente.
A segunda é o app GentleBirth que diariamente convida você a praticar suas afirmações positivas, a respirar adequadamente, a fazer sessões de mindfulness e de auto-hipnose. O app é autoexplicativo e nele você constrói a sua jornada a depender da fase perinatal que você está vivendo: tentando engravidar, no primeiro, segundo ou terceiro trimestre, no puerpério, no retorno ao trabalho ou em situações especiais da gestação.
O aplicativo lhe ajuda a se conectar com o que há de mais moderno na ciência do parto positivo. O app foi desenvolvido para desenvolver a preparação mental e emocional para o parto e tem o objetivo de influenciar o desempenho físico e viabilizar que a audição de afirmações positivas, de respiração, das sessões de mindfulness e de auto-hipnose afetem a motivação intrínseca e o desenvolvimento emocional, a saúde e o bem-estar do casal gestante.
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Texto: Monalisa Barros (GentleBirth Brasil)
Foto: Renata Pena, @renatapennafotopoesia, de São Paulo/SP