"É só um piquezinho": uma experiência de episiotomia
Mariana de Toledo Ignácio*
Quando descobri que estava grávida do meu primeiro filho, eu nunca tinha pensado sobre maternidade antes. Foi aí que o meu caminho de busca começou.
Eu realmente não sabia nada, mas uma curiosidade imensa me invadiu. O que me levou a querer conhecer mais a minha história e a história das mulheres da minha família. Foi quando perguntei para minha mãe como tinha sido sua gravidez e nosso parto; tudo o que ela me contou foi fascinante. Nela eu vi uma grávida apaixonada, doce e muito independente. Ela tinha uma confiança absoluta em seu obstetra.
Ao passo que ela foi me contando sobre o parto, algumas coisas começavam a não fazer muito sentido para mim. Eu nasci de parto normal, eu sempre soube disso, mas o que eu não sabia era sobre algumas intervenções que, para minha mãe até hoje são consideradas extremamente normais, mas que para mim pareciam muito estranhas.
Foi quando ela me falou sobre o “piquezinho” eu nunca tinha ouvido falar naquilo e fiquei bem assustada. Naquele momento então, eu decidi que eu não deixaria isso aconteceria comigo. E fui buscar entender melhor o que era uma episiotomia.
A episiotomia é uma intervenção cirúrgica, durante o trabalho de parto, em que um corte é feito na vagina, para aumentar sua abertura; pode ser feito no períneo (pele e músculos entre o ânus e a abertura vaginal) ou na diagonal, em direção à coxa.
Segundo estudo de Amorim, dos partos acompanhados, cerca de 60% das mulheres não tiveram nenhuma laceração. Considerando que esse é um estudo de 13 anos, em que apenas com cuidados perineais foi possível a não utilização da episiotomia como intervenção - AMORIM et al. (2014). Análise de 450 partos sem episiotomia.
Segundo o obstetra Joseph De Lee, a justificativa que se dava na época para terem admitido a episiotomia como um procedimento padrão por tanto tempo é que evitaria uma laceração perineal espontânea. Porém, me parece bastante óbvio que um dos maiores riscos da episiotomia é justamente esse corte se ampliar ainda mais, chegando a camadas mais profundas, atingindo os músculos do reto e o próprio reto, necessitando de mais intervenções, suturas e uma recuperação bem complicada. Joseph De Lee é um dos líderes do movimento a favor da medicalização do parto, no século XX.
Nessas alturas eu já tinha trocado de obstetra, para uma profissional que me entendesse melhor, e que pudesse me explicar todas as intervenções que eram normalizadas na época da minha mãe e que até hoje ainda são.
Além do yoga, que eu já praticava a muito tempo, ela me indicou uma fisioterapeuta pélvica maravilhosa, que me apresentou muitas formas de melhorar meu relacionamento com meu assoalho pélvico. Uma delas foi a massagem perineal, uma das mais belas descobertas nesse processo.
Quando finalmente chegou a minha vez, eu estava tão profundamente conectada com o meu filho, que no período expulsivo eu não precisei fazer força, eu apenas respirava profundamente e deixava que o meu corpo se abrisse lentamente. O resultado disso tudo foi um lindo períneo íntegro e uma recuperação perineal super saudável.
* Mariana de Toledo Ignácio, mãe do Caetano, professora de Yoga para o Parto, Doula, Terapeuta Corporal e amante da vida. No Instagram @m.marianaignacio