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Bem-vinda ao nosso blog!

Tudo e um pouco mais sobre preparação mental para o parto, gestação, puerpério e parentalidade.

Renatta, Xande e Maitê

Renatta, Xande e Maitê

No dia 23 eu acordei com algumas cólicas que já me acompanhavam há alguns dias. Havíamos entrado na quadragésima semana. Sugeri no grupo da família que a gente se reunisse pra tomar um café na casa de minha irmã porque provavelmente no próximo eu já estaria recém parida.

Lá eu comecei a sentir uns incômodos que não sabia muito descrever como eram, mas eu não conseguia ficar sentada e tinha que levantar e me movimentar. Fui pra casa por volta de 22h e esses incômodos começaram a ficar mais intensos. Eu já havia baixado o aplicativo “Contrações” que minha doula tinha sugerido. Ali eu não sabia se já eram contrações mesmo, mas me lembrava de Marcella dizer sempre: “quando for, você vai saber”. E eu soube. Por volta de 23h eu senti minha barriga endurecer junto com uma dorzinha leve. Eu e Xande ficamos atentos pra ver se aquilo engataria e ele me pediu que eu tentasse deitar porque eu precisaria de energia para as próximas horas que chegariam. Mas eu não consegui. Pedi que ele descansasse e fui pra sala.

Comecei a me concentrar e tentar me conectar com o momento que estava chegando. Me preparei durante 9 meses pra ele. Me despedi do barrigão. Agradeci a gestação linda e tranquila que tive, e passou um filme na minha cabeça de todas as rodas das Cirandeiras e do Workshop GentleBirth que participei. Era o momento de ouvir meditações e hipnoses no aplicativo e me entregar. Foi o que fiz.

 Os “incômodos” aumentaram um pouco mais e eu abri o aplicativo pra marcar a duração, frequência e intensidade das contrações. Quando elas começassem a pegar o ritmo de 2 a cada 10 minutos eu ligaria pra Kika vir pra minha casa.

Os espaços ainda estavam grandes entre uma e outra e a intensidade ainda leve. Deu até tempo de fazer stories de Shiva subindo na ráfia.

4:30 da manhã eu estava sentada na bola de pilates com contrações que eu achava que estavam ficam bem fortes. Ilusão pura. Se eu soubesse que aquilo ali ainda eram só cócegas... rs. Senti uma coisa diferente saindo de mim e corri pro banheiro. Era um líquido que saiu parecendo uma pequena explosão e não ultrapassou o tecido da calcinha. Quando cheirei, percebi que minha bolsa havia rompido. Acordei Xande e pedi pra que ele ficasse comigo no banheiro marcando as contrações enquanto eu tomava um banho.

A partir daí o trabalho engrenou. As contrações começaram a ritmar e a intensidade cada vez mais forte, mas ainda bem suportável.

6h ligamos pra Kika avisando. Estava tudo sob controle, mas já estava no ritmo que ela queria ser avisada. Ela chegou por volta de 7:30. Com uma voz macia, mãos de fada e óleos mágicos.

A partir daí ela e Xande se revezavam com as massagens. E eu me revezava entre a bola, o sofá e o banho. Algumas vezes fui ao quarto ler as frases que eu tinha escrito e colado na parede como “posso tudo por um minuto”, “eu sei parir”, “a dor é temporária, mas desistir é para sempre” e reafirmar tudo aquilo que eu tinha estudado e me empoderado por todos aqueles meses.

Em algum momento depois disso eu não sabia mais que horas eram, as massagens nem sempre eram tão bem vindas e o chuveiro passou a ser o lugar mais maravilhoso que já existiu no mundo. Marcella chegou e eu não vi. Eu encontrei uma posição que ficava metade no chão e metade no sofá que eu conseguia dormir entre uma contração e outra. Nessa hora eu pensava que se alguém me descrevesse exatamente aquela dor e dissesse que eu seria capaz de passar por ela, eu diria que era mentira. E quanto mais forte ela vinha, mais eu me conectava com ela. Imaginava meu corpo todo se abrindo e se transformando pra receber o amor da minha vida. Em nenhum momento pensei em desistir.

10h senti vontade de ir ao banheiro, como se quisesse defecar, mas não era. Kika então sugeriu que fossemos pro hospital, e ela e Xande me perguntaram o que eu achava e eu respondi que sim. Eu e Xande já havíamos desistido da maternidade particular e queríamos ir para a maternidade pública da cidade. E quando Kika perguntou pra qual hospital iríamos, a voz de Marcella ecoou na minha cabeça: “irmã, se você optar pelo Esaú, você vai pra um parto natural. Não adianta pedir anestesia e nem cesárea. É um hospital público.”

E mesmo com a possibilidade de ir para um particular e receber todas as intervenções que amenizassem ou acabassem com a dor, eu quis o Esaú. O parto era nosso – meu e de Maitê. Meu corpo e ela saberiam exatamente o que fazer.

Chegamos no hospital por volta de 10:30. Tive a sensação de que a gente chegaria em São Paulo, mas nunca no hospital. Ficamos aguardando pelo menos uns 30 minutos na recepção e talvez aquele tenha sido o momento mais difícil.

Quando finalmente entrei para triagem, recebi meu primeiro toque. Até ali a gente não fazia ideia do quanto eu já havia dilatado. Poderia ser muito e poderia ser nada. E não foi surpresa quando a médica disse que eu já estava com 9. Ela pediu pra que me encaminhassem pra sala de parto e que só havia “uma pelinha” atrapalhando a passagem do bebê. Que no máximo dentro de 1 hora e meia eu estaria parindo. Entrei renovada, forte e confiante. E ali no Esaú começou outro processo.

Se passaram 1, 2, 3, 4 horas... Eu sentia vontade de expulsar quando as contrações vinham, mas Maitê não vinha. No próximo toque feito por uma enfermeira (maravilhosa e super competente), ela percebeu que havia um edema na frente da cabeça dela que estava atrapalhando a passagem.  Ela fez uma manobra durante a contração com os dedos e tentou empurrar o edema pra trás da cabecinha dela pra ver se assim ela conseguiria passar. Segurei a mão de Xande com uma mão e a de Kika com outra. E mais uma vez eu pensei que jamais fosse capaz de passar por aquilo. Foi uma dor absurda. Esperamos mais um pouco e nada.

De tempos em tempos alguém vinha medir os batimentos cardíacos fetal. E estava tudo sob controle. Maitê estava bem.

A manobra não tinha resolvido e eu ainda estava com 9cm às 18h. Foi quando resolveram colocar uma medicação em minha veia pra afinar a parede do colo do útero. Esperamos pouco mais de 1h e a medicação também não adiantou.

Eu estava sentindo muita dor, e a cada toque que eu escutava que ainda estava com 9cm, vinha uma frustração absurda.

Eu ficava acocorada na maca, sentava no cavalinho, andava pelo hospital, sentava na bola de pilates, tomei uns 300 banhos e nada. Maitê não vinha. A dor e o cansaço só aumentavam.

Por volta de 20h recebi mais um toque e o médico que entrou no plantão fez mais uma vez a tal manobra. Dessa vez tinha menos carinho do que da primeira. E eu tinha certeza que aquilo era o ápice da dor que um ser humano seria capaz de sentir. Esperamos mais de 1h e nada! Ainda estávamos com 9cm.

As contrações já estavam desreguladas. Mas Maitê estava sendo monitorada o tempo inteiro e estava bem.  A última tentativa foi colocar ocitocina 21:30 para regularizar as contrações e tentar evoluir esse último centímetro que faltava pra Maitê sair. E não aconteceu.

Já era tarde, eu estava entrando em 24h de trabalho de parto. Entre dores, expectativas, frustrações e um cansaço absurdo. O médico sugeriu uma cesárea alegando bradicardia fetal. Maitê, segundo ele, estava começando a entrar em sofrimento. E a cesárea se tornou protocolo e deixou de ser sugestão quando saiu uma quantidade significativa de mecônio -  fezes do bebê que foram eliminadas devido ao estresse do trabalho de parto. Afinal de contas, não era só eu que estava tentando parir, ela também estava se esforçando pra passar e encontrava uma barreira na saída.

Eu e Xande choramos muito. Eu não conseguia acreditar que tinha passado por tudo aquilo, ter chegado quase parindo no hospital e 12 horas depois não ter evoluído apenas o último centímetro que faltava.

Fui pro centro cirúrgico muito assustada, eu tinha mais medo de uma cesárea do que do parto normal. Foi horrível. Sentei na maca pra receber anestesia ainda sentindo contrações. O campo foi colocado muito próximo ao meu rosto e me dava uma sensação de sufocamento. Maitê chegou. Eu não vi e não escutei ela chorar. Nasceu molinha, toda escurinha, suja do mecônio e precisou ser aspirada pela quantidade que foi engolido. Logo depois que reagiu, entregaram ela pra gente.

Demorei tanto pra fazer esse relato primeiro por falta de tempo, depois porque eu levei um tempo pra digerir tudo que tinha acontecido. Eu não conseguia aceitar que eu tinha sonhado tanto com aquilo, ter passado 90% do trabalho de parto em casa, chegar no hospital quase parindo e aos 45’ do segundo tempo surgir algo que eu sequer já tinha ouvido falar e mudar todos os nossos planos.

Um tempo depois, olhando pra trás e tentando assimilar aquele dia, eu consigo entender que as coisas não são como a gente planeja, elas são como elas têm que ser. E ponto. Eu tive praticamente os 2 partos e talvez isso tenha feito de mim uma mulher muito mais forte do que se eu tivesse conseguido parir em menos tempo, com menos dor e sofrimento. Talvez isso tenha me dado forças pra conseguir amamentar mesmo quando meu peito gritava de dor e suplicava descanso. Eu lembrava de tudo que passei e pensava: não foi fácil até aqui, eu vou conseguir passar por mais essa.

E eu consegui.

Olhar pra trás agora é perceber que Alexandre ainda consegue me surpreender. Que marido... que parceiro foda que eu tenho! Nossa conexão se fortaleceu ainda mais. Muito mais. Ele foi indispensável, foi forte, foi carinhoso, foi paciente, foi lindo... obrigada, meu amor. Maitê foi recebida com o que há de mais puro e verdadeiro. E eu não posso deixar de agradecer a Kika, que além de ter me doulado com tanta paciência e responsabilidade, me transmitiu a segurança que eu precisava pra entender que tudo aquilo era parte do processo. Quando eu dizia que não aguentava mais, ela me olhava com uma cara de “você já está aguentando” e eu voltava a me concentrar na chegada da minha menina.

Olhar pra trás agora é, principalmente, descobrir o que eu não sabia o quanto eu sou forte. E que a via de parto era sim muito importante, mas muito menos do que Maitê nascer bem e com saúde, mesmo com todos os percalços. É saber que ela chegou porque estava pronta.  Não foi tirada antes da hora e a indicação da cesárea foi justamente para o que ela se propõe. Nunca foi minha primeira opção, mas foi o que salvou a gente.

O dia 24/09/2018 me transformou. Me conectou com a experiência mais primitiva que uma mulher pode experimentar. Nasceu um bicho, uma mãe e nasceu Maitê, o grande amor da minha vida.

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Renatta e Xande fizeram o Workshop GentleBirth e usaram o app durante toda a gestação, o que ajudou na reação calma à frustração de não ter concretizado seu desejo de um parto normal. Resiliência é uma das nossas conquistas durante a preparação mental para o parto. Controle o que for controlável é nosso mantra. Eles moram com Maitê, Gui e Biel, Shiva, Estrela e Brisa em Vitória da Conquista (BA).

Tully: uma viagem no puerpério

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Posição de Poder: seu caminho para um Parto Positivo

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